terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Brida e a Outra Parte...


– O que é a Outra Parte? – insistiu Brida [...]
– A Outra Parte é a primeira coisa que as pessoas aprendem quando querem seguir a Tradição da Lua – respondeu. – Só entendendo a Outra Parte é que se entende como o conhecimento pode ser transmitido através do tempo. [...]
– Somos eternos, porque somos manifestações de Deus – disse Wicca. – Por isso passamos por muitas vidas e por muitas mortes, saindo de um ponto que ninguém sabe, e nos dirigindo a outro ponto que tampouco sabemos. Acostume-se com o fato de que muitas coisas na magia não são e nunca serão explicadas. Deus resolveu fazer certas coisas de certa maneira, e por que Ele fez isto é um segredo que só Ele conhece.
“A Noite Escura da Fé”, pensou Brida. Ela também existia na Tradição da Lua.
– O fato é que isto acontece – continuou Wicca. – E quando as pessoas pensam em reencarnação, elas sempre se defrontam com uma pergunta muito difícil: se no começo existiam tão poucos seres humanos na face da Terra, e hoje existem tantos, de onde vieram essas novas almas?
                Brida estava com a respiração suspensa. Já fizera esta pergunta a si mesma muitas vezes.
– A resposta é simples – disse Wicca, depois de saborear por algum tempo a ansiedade da menina.   – Em certas reencarnações, nós nos dividimos. Assim como os cristais e as estrelas, assim como as células e as plantas, também as nossas almas se dividem.
"A nossa alma se transforma em duas, estas novas almas se transformam em outras duas, e assim, em algumas gerações, estamos espalhados por boa parte da Terra.”
– E só uma destas partes tem a consciência de quem é? – perguntou Brida. Ela guardava muitas perguntas, mas queria fazer uma de cada vez; esta lhe parecia a mais importante.
– Fazemos parte do que os alquimistas chamam de Anima Mundi, a Alma Mundi, a Alma do Mundo – disse Wicca, sem responder a Brida. – Na verdade, se a Anima Mundi fosse apenas se dividir, ela estaria crescendo, mas também ficando cada vez mais fraca. Por isso, assim como nos dividimos, também nos reencontramos. E este reencontro chama-se Amor. Porque quando uma alma se divide, ela sempre se divide numa parte masculina e numa parte feminina.
“Assim está explicado no livro do Gênesis: a alma de Adão dividiu-se, e Eva nasceu de dentro dele.”
Wicca parou, de repente, e ficou olhando o baralho espalhado sobre a mesa.
– São muitas cartas – continuou –, mas fazem parte do mesmo baralho. Para entendermos sua mensagem, precisamos de todas, todas são igualmente importantes. Assim também são as almas. Os seres humanos estão todos interligados, como as cartas desse baralho.
“Em cada vida temos uma misteriosa obrigação de reencontrar pelo menos uma dessas Outras Partes. O Amor Maior, que as separou, fica contente com o Amor que as torna a unir.
– E como posso saber que é a minha Outra Parte? – ela considerava esta pergunta como uma das mais importantes que fizera em toda a sua vida. [...]
– Correndo riscos – disse para Brida. – Correndo o risco do fracasso, das decepções, das desilusões, mas nunca deixando de buscar o Amor. Quem não desistir da busca, vencerá. [...]
– Podemos encontrar mais de uma Outra Parte em cada vida?
"Sim", pensou Wicca, com uma certa amargura. E quando isso acontece, o coração fica dividido e o resultado é dor e sofrimento. Sim, podemos encontrar três ou quatro Outras Partes, porque somos muitos, e estamos muito espalhados. [...]
– A essência da Criação é uma só – disse. – E esta essência chama-se Amor. O Amor é a força que nos reúne de volta, para condensar a experiência espalhada em muitas vidas, em muitos lugares do mundo.
“Somos responsáveis pela terra inteira, porque não sabemos onde estão as Outras Partes que fomos desde o início dos tempos; se estiverem bem, também seremos felizes. Se estiverem mal, sofreremos, ainda que inconscientemente, uma parcela dessa dor. Mas, sobretudo, somos responsáveis por reunir de volta, pelo menos uma vez em cada encarnação, a Outra Parte que com certeza irá cruzar o nosso caminho. Mesmo que seja por instantes; apenas; porque esses instantes trazem um Amor tão intenso que justifica o resto de nossos dias.”
– Também podemos deixar que nossa Outra Parte siga adiante, sem aceitá-la, ou sequer percebê-la. Então precisaremos de mais uma encarnação para nos encontrar com ela.
“E por causa do nosso egoísmo, seremos condenados ao pior suplício que inventamos para nós mesmos: a solidão.”

Sempre gostei muito desse diálogo entre Brida e sua mestra Wicca... A simplicidade ao tratar deste tema tão complexo, me impressiona... Para todos nós que (acreditando ou não) fazemos parte da Alma do Mundo...
E em especial... um Anjo que (mesmo não entendendo) me ilumina o caminho dentro da Noite Escura...

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